Filosofia, a perene qualidade do homem que pensa
A palavra Filosofia significa "amor à sabedoria",
mas, também podemos interpretar como “aquele que é amigo do saber” já
que Filosofia é uma palavra derivada de outras duas palavras: Philia =
Amor-amizade e Sofia = Sabedoria.
O Filósofo é aquele que ama o saber, ama conhecer, ama pesquisar,
ama investigar, o Filósofo é aquele que sabe ordenar todas coisas. Agora, não é possível filosofar, ser Sábio aquele que não
possui a virtude da humildade ou que se acha o dono da verdade. Ora o Filósofo
é um Sábio por excelência, e o Sábio é o mestre das virtudes. Sendo a humildade
uma dessas virtudes, deve possuí-la.
A obra de Tomás de Kempis: "A Imitação de
Cristo"(1) ensina justamente este pressuposto da humildade do
filósofo: "Todo homem experimenta o desejo natural de saber. Mas
que importa a ciência sem o temor de Deus? Não há dúvida de que mais vale um
pobre peão que serve a Deus do que um orgulhoso filósofo que, sem preocupar-se
consigo mesmo, perscruta o curso do céu [...] A vida virtuosa torna sábio
segundo Deus e perito em muitas coisas. Quanto mais uma pessoa é humilde de
coração e submissa a Deus, mais possui sabedoria e paz"(2).
Se o sábio ou filósofo não possuir ao menos o senso da virtude,
este não pode ser chamado de sábio, mas sim um opinador ou filodoxo,
isto é, um amigo da opinião, ainda que possa ser culto. (Philia =
Amor-amizade e Doxa = opinião). Em consonância com esta ideia,
a Imitação de Cristo ainda diz: "É grande sabedoria agir sem
precipitação e não obstinar-se na própria opinião". (3)
Assim dizia Sócrates: “Só sei que nada sei”(4) e isso significa
que por mais conhecimento que ele possa ter, ainda é pouco se comparado aos
inúmeros conhecimentos e saberes existentes no mundo ao seu redor e, que podem
ser adquiridos no decorrer dos dias, meses, anos, décadas até a sua morte.
Nisto consiste a sabedoria, saber que estaremos sempre aprendendo até o fim de
nossos dias na terra.
Santo Agostinho também nos ensina que: "O dom da fala
foi concedido aos homens não para que eles enganassem uns aos outros, mas sim
para que expressassem seus pensamentos uns aos outros." Ou seja,
todo a aquele que pensa ou questiona sobre algo, de certa forma já está
filosofando e essa sabedoria adquirida deve ser dita, falada, transmitida a
outros, nenhum conhecimento é para si próprio, mas sempre em função de algo
maior. Deve estar sempre em função do bem, do belo, da ordem, do próximo e do
bem comum, mas sempre, sem sombra de dúvidas, do equilíbrio interior. A
Filosofia é portanto uma realidade humana, pois nenhuma pessoa consegue deixar
de fazer um esforço filosófico, ainda que seja mínimo.
Todos tentam unir as ideias que possuem com a vida que levam.
A filosofia tem por perene qualidade a re-significância da vida. O ato de
filosofar nos traz a capacidade de darmos sentidos as mais profundas questões
do ser, sem a necessidade de estarmos na sublime certeza das coisas, mas
unicamente na certeza de - ao menos - estarmos caminhando para esta
sublimidade. Ninguém é plenamente humano sem um mínimo de filosofia, pois
não é possível viver de forma irracional. Portanto podemos crer que o
esforço filosófico é comum a todos. Sim, ainda que não percebamos, todos
nós filosofamos.
A Santa Igreja, observando essa verdade, de que a filosofia
está intrinsecamente unida ao ser humano, concede aos seminaristas o
estudo da Filosofia, exatamente para que os futuros padres possam
reconhecer-se plenamente como seres humanos, para que possam assumir
plenamente sua humanidade e depois de assumido possam fazer uma boa
teologia, ou seja, os padres são formados intelectualmente com o estudo
filosófico, exatamente porque esta disciplina os ensina a se
conhecerem melhor e conhecerem o outro, conhecerem o mundo e a realidade em
que vivem para melhor transmitir as Verdades da Fé, questionando o mundo em que
vivem, e dando ao mesmo e com melhor intelecção a Sagrada Doutrina da Salvação.
Concluo portanto afirmando que na Igreja e somente nela, a
Filosofia encontra a sua plenitude, pois sendo ela "amor à
sabedoria", por excelência, a encontramos na casa de Deus. A
sabedoria (sapientiae: sapiência) é o próprio Cristo, como nos ensina
São Paulo: "Mas, para aqueles que são chamados, tanto judeus
como gregos, ele é o Messias, poder de Deus e sabedoria de Deus." (5).
O Antigo Testamento, no livro de Provérbios nos exorta a vivermos em
comunhão com a sabedoria, a não abandonarmos ela, a amá-la: "Não
abandone a sabedoria, e ela o guardará. Ame a sabedoria, e ela o
protegerá. O princípio da sabedoria é adquirir a sabedoria." (6),
ou seja, a Igreja nos ensina que devemos ler o Antigo Testamento à luz de
Jesus Cristo, logo podemos concluir que essa sabedoria é o próprio
Cristo, vejamos: "Não abandone o Cristo, e ele o guardará.
Ame o Cristo, e ele o protegerá. O princípio da sabedoria é adquirir a
doutrina de Cristo."
Portanto, a Filosofia é importante, querida por Deus, e útil
para nos aproximarmos cada vez mais da sabedoria Eterna, nosso Senhor
Jesus Cristo. E com certeza absoluta, creio e afirmo que a filosofia,
o ato de filosofar, é o que o homem tem de mais humano em si mesmo. A filosofia
o torna mais humano e isso na medida em que ele questiona a própria realidade
em que vive percebendo de que o lugar dele não é este mundo, mas um lugar maior
e sublime, tal como intui suas próprias insatisfações.
Rezemos:
"Ó Sabedoria Eterna, a ti rendemos louvores, e pedimos:
ensina-nos a sermos mais santos, mais sábios, mais humildes. Ó
Cristo,Sabedoria do Pai, envia-nos o teu Espírito Santo, para que possamos
crescer não só em estatura, mas em graça, em sabedoria. Amém."
In Corde Iesu et Mariae
Por Bruno Otenio
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Notas e Referências bibliográficas:
1. A imitação de Cristo –
Edições Loyola
2. Ibidem, Livro I, cap. 2, §1. 3, §2.
3. Ibidem, idem, cap. 3, §2.
4. A República – diálogo socrático escrito por Platão, filósofo grego, séc.
IV a.C.
5. I Cor 1, 24
6. Pv 4, 6-7
v Confissões – Santo
Agostinho
v CARVALHO, Olavo de. A
Filosofia e seu inverso e outros estudos. ed. Vide Editorial.
v RATZINGER, Joseph. A Fé em Crise. O
cardeal Ratzinger se interroga.
v Summa Teologiae – São
Tomás de Aquino
muito bom, parabéns
ResponderExcluirObrigado Carlos
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