A
Arte de Aprender
Quanto ao modo de aprender, atenha-se a dois modos eficazes
e complementares: a leitura e
a meditação. Cujo fim último deve ser a contemplação da Verdade.
Ora, a leitura, o ato de ler, não se resume apenas na forma clássica, isto é,
apenas na leitura de livros ou decifração de códigos linguísticos. A leitura, o ato de ler, significa tudo observar, fazer de todos os fenômenos que atingem nossos olhos objetos de
leitura, objetos a serem analisados, observados. O ato de ler é amplamente
direcionado a realidade tal como podemos ver, sentir e tocar. Da leitura devemos
avançar a Meditação.
Por meditação, deve-se entender o ato de refletir sobre tudo aquilo que lemos.
Portanto a leitura é o que nos leva a meditação. Todo fenômeno que nos atinge e
aparece, toda situação que nos envolve, de tudo podemos refletir, bastando
saber que esta reflexão, é meditação provinda de uma leitura. Ora, a meditação
é o ato de especular, analisar, refletir sobre determinadas leituras que
fazemos, tudo aquilo que pode estar oculto por de trás do objeto lido. Como, devido nossa incapacidade de assimilar todas as informações de
uma só vez, pelo fato de que nossa mente, nossa alma, só consegue captar as
mensagens fenomenológicas de forma parcial e gradativamente, somos naturalmente
envolvidos por esta capacidade de meditar sobre tudo o que lemos. Na meditação
é que vamos especular tudo aquilo que está oculto, por meio deste ato -
reflexivo-meditativo – aquilo que está escondido poderá vir a ser descoberto, e
uma vez descoberto, tornar-nos-emos mais cultos. A meditação é por excelência o
ato de filosofar. O Filósofo é aquele que busca tudo refletir e meditar, é
aquele que buscar tudo especular e esmiuçar. É próprio do filósofo tudo ler e
meditar, buscar em tudo a razão de sua existência. Refletir como, epistemologicamente, funcionam as coisas, como se organizam.
Toda leitura, seguida da meditação, deve conter um fim último que dê sentido a
estes atos, a esses modos de aprendizado. Ora, o fim último da leitura e da meditação
é a vida contemplativa do homem. Sim, é por meio da leitura e da meditação que
o homem poderá adquirir o conhecimento das coisas e tornar-se sábio, e uma vez
adquirido a sabedoria o homem poderá “contemplá-la”.
A contemplação é o ato de se deliciar das coisas ou do conhecimento adquirido.
Tal como uma mãe que depois de dar a luz a seu filho e tê-lo em seus braços o
contempla, se delicia, apenas ama sua criança. Nada pensa, nada mais quer, nada
mais precisa, a não se continuar a observar sua criança mergulhada em seus
braços em um sono tranquilo e confortável. Neste ato contemplativo a mãe apenas
ama e se delicia do amor que nela é gerado. Ou poderíamos – a luz de Hugo de
São Vítor[1] – descrever a contemplação como uma
pessoa que ao encontrar um belo jardim corre em seu campo aberto contemplando a
sua liberdade. É, portanto a contemplação a deleitação do conhecimento
adquirido, da sabedoria desenvolvida, da iluminação que dissipa as trevas da
alma, da mente.
De tudo poderás ler, mas nem tudo poderás aceitar, pois só existe uma única
verdade e esta não pode se contradizer. Portanto ler de tudo significa apenas
buscar o conhecimento da verdade em tudo, podendo ser rejeitado qualquer objeto
de leitura (se necessário) que não conduza ao conhecimento contemplativo da
verdade. Ora a busca pela verdade é a busca do saber, do logos (razão) de tudo,
é o ato verdadeiro de aprender.
De todas as coisas possíveis a serem lidas e meditadas, a única que realmente é
essencial, indicada e indispensável são as Sagradas Escrituras Cristãs, a Palavra de Deus. Nelas se encontra
tudo aquilo de que precisamos para sermos perfeitos. Principalmente o
Evangelho, que é o ápice das Escrituras, é a Boa Nova que torna perfeito todo
homem, que torna sagrada a sabedoria humana. Que ilumina os passos daqueles que
caminham na escuridão da imperfeição. Portanto toda leitura é possível e
capaz de alguma coisa ensinar, mas somente a Bíblia (Palavra de Deus ou
Sagradas Escrituras) é realmente indispensável. Quanto às leituras profanas,
isto é, que não são sagradas, é recomendável que não se muito perca tempo com elas ou com aquilo
que não faça o homem mais sábio, humilde, virtuoso e santo.
A única vantagem de conhecer aquilo que não conduz ao conhecimento perene é que
esta leitura te acrescentará mais clareza do que é bom ou ruim, ou seja, do que
realmente vale a pena ou não ser lido e “ensinado”. Até porque toda leitura e
meditação, todo conhecimento adquirido deve ser partilhado, transferido, doado.
O sábio é aquele não só ama aprender, como também ama ensinar. E ensinando
aprende mais.
Só
é possível, portanto, saber se algo conduz ou não ao conhecimento contemplativo
através dos dois modos citados a cima: da
leitura e da meditação.
Ler é aprender. Aprender é viver.
Paz e Bem.
Por
Bruno Otenio
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